terça-feira, 25 de agosto de 2020

OLHO DE BOI

 


Olho de Boi - Semente

Função: poderoso amuleto contra a inveja e o "mau-olhado". Elimina negatividades enviadas por terceiros para as pessoas ou respectivas habitações ou locais de trabalho.


Como utilizar:


1- Pode ser usada dentro de um saquinho de pano preto, que deve estar sempre com a pessoa. No saquinho, pode também juntar um pouco de sal marinho, um pouco de Arruda e um pouco de Alecrim.


2- Em casa, pode ser posta dentro de um copo com água, servindo assim de "alarme" preventivo. Por norma, quando a semente arrebenta, é sinal que alguém enviou energias negativas contra a casa ou contra os seus habitantes. Se a água do copo ficar preta ou de tonalidade escuro, é sinal que a negatividade em causa é forte e com intuito de destruição.


3- Em casa, a semente também pode ser colocada num pequeno saquinho de pano preto e pendurada atrás da porta de entrada, ou pode ser espalhada pela casa.


4- Pode ser utilizada num fio, de preferencia sem ser furada. Isto serve como protecção pessoal.


Lembrem-se que caso utilizem esta semente num saquinho junto ao vosso corpo, para protecção pessoal, devem colocá-la no lado esquerdo do corpo, pois é através da nossa esquerda que se recebe tudo o que existe á nossa volta e se absorve tudo o que nos é emanado, seja bom ou mau.

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Amoreira



Éwe Isan: Amoreira
Nome científico: Morus nigra
Orixás: Exú, Omolu, Ibeiji, Oyá Ìgbàlé, Nanã, Egun e Ìyàmì
Elementos: fogo/masculino/gun

A Amoreira é uma árvore que pode chegar a 12 metros de altura. As folhas têm o formato de um coração, são inteiras ou lobuladas, com as bordas serrilhadas.
A espécie, que pode ser encontrada em todo o Brasil, tem origem da Ásia.
O fruto da Amoreira é a amora.
As Amoras são frutos agregados, ou seja, são formados pela agregação de vários frutos menores denominados mini-drupa ou drupete. Existem vários tipos de amoras que diferem na coloração. Podem ser vermelhas, brancas e negras, e seu tamanho é pequeno, medindo entre 1 a 3 centímetros, dependendo da espécie.
Estes frutos podem ser consumidos in natura ou como sucos, sorvetes, geleia, licores, vinhos, xaropes e vinagres.

As espécies de amoreira mais cultivadas são:
-Morus rubra, que produz a amora-vermelha
-Morus alba, que produz a amora-branca
-Morus nigra, que produz a amora-preta

Nas casas de axé a Amora esta ligada à maternidade e a ancestralidade.
Os antigos sacerdotes associavam seu fruto ao formato do ovário feminino e dos óvulos a serem fecundados.
A amora além de possuir esta representação simbolica por sua aparência, possui propriedades que auxiliam a mulher a ter filhos, fortificando ainda mais a teoria dos antigos sacerdotes .
Dos galhos da Amoreira se tira o Isan também conhecido como àtòrì utilizado por Oyá Ìgbàlé para manter o controle sobre seus filhos os Eguns.
Os Sacerdotes do culto de Egun
também utilizam o àtòrì para manter o controle sobre Egun e conduzi los durante suas cerimônias de culto e atos litúrgicos .
O àtòrì só pode e deve ser retirado e preparado pelo Olossanyin, ou pelos Sacerdotes do culto de Egun e cargos ou postos semelhantes e instruídos ao ato.
A Amoreira também é utilizada em atos de sacudimento e bate folha para retirar feitiços e afastar Egun ao fazer este rito nenhuma folha ou resquício da planta deve ficar no ambiente após a realização do ato.
A mística que envolve a Amoreira em nossos cultos é tão grande que os antigos sacerdotes contam que ao entardecer os Eguns se reunem em sua sombra e por isso não se deve passar por ela ou ficar em baixo dela devido a ela atrair energias considerada negativas e devido a isso jamais se deve tomar banho feito de suas folhas.
Porém há casas de axé que em sua ritualistica utilizam as folhas da Amoreira para fins litúrgicos como o preparo de banhos de descarrego e para compor a fundamentação de patuás de proteção.
Não se tem relatos sobre negatividade em seus frutos que podem ser consumidos sem medo.

Itan
 "Em certa época, as mulheres eram relegadas a um segundo plano em suas relações com os homens. Então elas resolveram punir seus maridos, mas sem nenhum critério ou limite, abusando desta decisão, humilhando-os em demasia.

"Oyá era a líder das mulheres, e elas se reuniram na floresta. Oyá havia domado e treinado um macaco marrom chamado ijimeré (na Nigéria). Utilizara para isso um galho de atori (ixan) e o vestia com uma roupa feita com várias tiras de pano coloridas, de modo que ninguém via o macaco sob os panos.

"Seguindo um ritual, conforme Oyá brandia o ixan no solo o macaco pulava de uma árvore e aparecia de forma alucinante, movimentando-se como fora treinado a fazer. Deste modo, durante a noite, quando os homens por lá passavam, as mulheres (que estavam escondidas) faziam o macaco aparecer e eles fugiam totalmente apavorados.

"Cansados de tanta humilhação, os homens foram ver o babalawo para tentar descobrir o que estava acontecendo. Através do jogo de Ifá, e para punir as mulheres, o babalawo lhes conta a verdade. Ele os ensina como vencer as mulheres através de sacrifícios e astúcia.

"Ogun foi o encarregado da missão. Ele chegou ao local das aparições antes das mulheres. Vestiu-se com vários panos, ficando totalmente encoberto, e se escondeu. quando as mulheres chegaram, ele apareceu subitamente, correndo, berrando e brandindo sua espada pelos ares. Todas fugiram apavoradas, inclusive Oyá."

Desde então os homens dominaram as mulheres e as expulsaram para sempre do culto de Egun; hoje, eles são os únicos a invocá-lo e cultuá-lo. Mas, mesmo assim, eles rendem homenagem a Oyá, na qualidade de Igbalé, como criadora do culto de Egun.

Convém notar que, no culto, Egun nasce no bosque da floresta (igbo igbalé). No Brasil, no ilê awo, ele nasce no quarto de balé, onde são colocadas oferendas de comidas e realizadas cerimônias aos Eguns. Oyá é também cultuada como mãe e rainha de Egun, como Oyá Igbalé.

E, como nos explica a lenda, Oyá, a floresta e o macaco estão intimamente ligados ao culto, inclusive em relação à voz do macaco como é o modo de o Egun falar.

Observação pessoal:
Egun não deve ser tratado como malefico ou confundido com Kiumbas, isso é um grave equívoco que deve ser desmistificado para evitar confusão.

Benefícios da amora:
- Combate o envelhecimento
- Reforça o sistema imunológico
- Melhora a pressão sanguínea
- Fortalece os ossos
- Contém vitaminas A, B, C, E e K
- Contém ferro
- Ajuda na perda de peso

Axé a todos, vamos somar!
Fonte: ewe ervas sagradas
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sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Ewé! A Força que vem das Folhas



KÒ SÍ EWÉ, KÒ SÍ ÒRÌSÀ!

 Expressão no idioma Yorùbá que quer dizer: "Se não há folhas, não há Òrìsà!" Esta expressão dá ao leitor o entendimento da importância das folhas dentro dos rituais de origem africana, no entanto, queremos aqui ampliar este conceito, traduzindo por folhas os vegetais de um modo geral, incluindo além de suas folhas, seus frutos, sementes, e até mesmo seu caule; e traduzindo por Òrìsà, os diversos usos "mágicos" desses vegetais.

Na caminhada evolutiva do homem, que hoje a maioria dos estudiosos acredita ter começado no continente africano, ele se valeu da observação da natureza para o desenvolvimento de habilidades que até então ele não possuía e, naquele continente onde "tudo começou", sociedades ditas "animistas" ou "tradicionais" continuam até hoje vivendo em harmonia com a natureza, dela tirando ensinamentos para a sua vida social. Animistas porque acreditam que "toda manifestação viva pressupõe a presença de uma força vital, determinante do ideal de viver", e que utilizando práticas específicas esta "força" poderá ser utilizada em seu favor! E dentro deste conceito os vegetais representam um grande potencial de possibilidades.

"Se para a medicina ocidental o conhecimento do nome científico das plantas usadas e suas características farmacológicas é o principal, para os Yorùbá o conhecimento dos ofò, encantações pronunciadas no momento da preparação das receitas e transmitidas oralmente, é o que é essencial. Neles encontramos a definição da ação esperada de cada uma das plantas que entram na receita." (Ewé,Pierre Verger, 1995).

Bom, diante dessa referência concluímos que as plantas e seus derivados não são utilizados aleatoriamente, visam atender necessidades específicas, ou seja, qual o resultado esperado? Ou ainda: utilizar a folha certa no momento certo! Vimos também que a ação esperada dessas folhas está ligada ao que vai ser dito no momento de sua utilização, o ofò, que nada mais é do que a utilização da palavra enquanto transmissora de àse. Verger diz ainda que à primeira vista é difícil perceber nas diversas "receitas", que tem como ingredientes elementos vegetais, qual é a parte "mágica", ou seja, aquela que o efeito vai se dar pelo àse nela contido, e quais as virtudes testadas experimentalmente dessas plantas, ou seja, ele diz com isso que muitas dessas plantas já tiveram suas propriedades farmacológicas comprovadas.

Dentro desse contexto quero destacar o trecho de uma canção brasileira, interpretada pela célebre cantora baiana Maria Bethânia:

"Salve as folhas brasileiras! Salvem as folhas para mim! Se me der a folha certa, e eu cantar como aprendi, vou livrar a Terra inteira de tudo que é ruim! Eu sou o dono da terra, eu sou o caboclo daqui! Eu sou Tupinambá que vigia, eu sou o dono daqui!" (meu grifo).

O que me chamou atenção nessa composição, e que destaco para o leitor, é que ela ilustra o trecho acima de Verger, e mais ainda, a utilização das folhas está associada a um dos grupos indígenas brasileiros, sugerindo que esses nativos, primeiros habitantes do nosso País, também conheciam essa prática!

Ainda de Pierre Verger:

"Na língua Yorùbá, freqüentemente existe uma relação direta entre os nomes das plantas e suas qualidades, e seria importante saber se receberam tais nomes devido às suas virtudes ou se devido a seus nomes, determinadas características foram a elas atribuídas." (meu grifo).

Como ilustração, transcrevemos o trecho de uma preparação Yorùbá para obtenção de dinheiro:

PÈRÈGÚN NÍ Í PE IRÚNMOLÈ L’ÁT’ÒDE ÒRUN W’ÁYÉ!
(É Pèrègún que chama os espíritos do além para a terra!)
PÈRÈGÚN WÁ LO RÈÉ PE AJÉ TÈMI WÁ L’ÁT’ÒDE ÒRUN!

(Pèrègún, agora vá e chame minhas riquezas do além!)

Nesta preparação encontramos referência a uma folha, conhecida pela maioria de nós: o Pèrègún, cujo nome é a contração do verbo "PÈ", que significa chamar, com a palavra "EGÚN", que significa espírito, ancestral, etc. Percebe-se então que esta folha tem a finalidade de "chamar (invocar) espíritos", e que a própria pronúncia de seu nome já funciona como um ofò! No caso da receita acima, a sabedoria daqueles nossos ancestrais yorubanos que a elaboraram fez esse trocadilho: se Pèrègún pode chamar espíritos, pode chamar a riqueza! Certa vez ouvi de meu "bàbá" que o negro yorubano tem sobre nós a vantagem do uso corrente do idioma, enquanto nós aqui no Brasil ficamos presos a textos prontos, que nos foram transmitidos ao longo do tempo.

Para algumas pessoas, principalmente para aquelas que não estão ligadas aos cultos de matriz africana, pode parecer um tanto "primitivo" pensar dessa maneira, digo, esperar resultados a partir da utilização de certas plantas, de sementes, etc., enfim de elementos da natureza, aparentemente inanimados. No entanto, repetimos, existe por traz da utilização desses elementos uma questão cultural. Eles se utilizam desses elementos da natureza acreditando que eles expressam as suas necessidades perante o "Criador", o destino final de seus pedidos:

"…Uma composição mágica parece ser considerada como uma coleção de coisas materiais, às quais é dado um valor simbólico; juntas constituem uma mensagem…" (Ewé, Pierre Verger, 1995)

Entre os Yorùbá, os ofò são frases curtas nas quais muito freqüentemente o "verbo" que define a acão esperada, chamado de "verbo atuante", é uma das sílabas do nome da planta ou do ingrediente empregado. No entanto, o elo entre o nome da folha e a ação esperada, invocada através do ofò, não se limita apenas ao verbo, mas pode aparecer em uma frase curta ou longa, nesse caso estabelecendo uma relação simbólica entre algumas "características naturais" daquela planta a as "necessidades" do homem.

Vejamos alguns exemplos:

ÀT’ÒJÒ ÀTEÈRÙN KÌ Í RE TÈTÈ

(Tètè nunca está doente, nem na estação chuvosa nem na seca)

Este ofò faz referência a uma folha conhecida popularmente por Bredo ou Caruru de porco, e cujo nome Yorùbá é Tètè. É uma folha facilmente encontrada, tanto no meio urbano, nas margens de calçadas, como no meio rural, e confesso que antes de conhecer o seu valor ritual, passava-me despercebida, assim com muitas folhas que não conhecemos! Percebemos pela tradução que é uma planta resistente às variações da natureza, permanecendo sempre saudável, e não é este tipo de força que queremos para nossa vida?

OJÚ ORÓ NI Ó N’LÉKÈ OMI, TÈMI Ó L’Á LÉ
(Ojú oró flutua na água, eu também ficarei por cima)
Ojú oró é conhecida popularmente por Erva de Santa Luzia, é uma planta aquática, encontrada em rios ou lagoas. Percebemos que nesse ofò evoca-se o poder dessa planta de conseguir manter-se sempre por cima da água!

Em território Yorùbá, na preparação dos trabalhos ligados à obtenção de todo tipo de sorte, ou para afastar algum mal, esses vegetais são pilados e misturados ao sabão africano Ose (oxé) Dudu, com o qual toma-se banho, ou então são torrados, até a obtenção de um pó, que poderá ser misturado à comida, a bebidas destiladas, ou até mesmo esfregado em incisões feitas no corpo, particularmente nos punhos.

Essas práticas quase não sobreviveram aqui no Brasil, por ocasião da reestruturação do culto aos Òrìsà, no entanto há uma prática viva entre nós: o Oro Asa Òsónyìn ou Sassanha, como é mais conhecido, um ritual realizado nas casas de raízes Yorùbá, que significa basicamente: Ritual de proteção de Òsónyìn. Utilizamos o recurso dos "cânticos da folhas" para determinar que as oferendas sejam cobertas de realizações, uma vez que esses cânticos possuem "verbos atuantes" que facilitam a comunicação entre o povo e os Ancestrais Divinizados. No caso de uma Iniciação para Òrìsà ou "Feitura de Santo", este ritual é realizado para preparar a "esteira", onde ficará deitado o iniciado e o "banho" para lavar todos os seus objetos rituais, bem como para os seus banhos matinais diários.

Referências Bibliográficas:

- Monteiro, Marcelo dos Santos, 1960 Curso Teórico e Prático de Folhas Sagradas Oro Asa

Òsónyìn Rio de Janeiro 1999 59 p. (Biblioteca Nacional);

- Verger, Pierre Fatumbi Ewé: o uso das plantas na sociedade ioruba São Paulo: Companhia
das, Letras, 1995;
oloje iku ike obarainan

FOLHAS, MACHO,FÊMEA, ESSENCIAIS AO CANDOMBLÉ



As folhas são essenciais para o Candomblé.

Todos do Axé sabem que Sem folhas não há Orixa " ko si ewe Ko si Orisá ".

Consulte um Babalorixá ou Iyalorixá antes de fazer uso das folhas . Cada uma tem o seu segredo, use-a com sabedoria.

"Folhas sagradas, Ewé Orò ou Folhas de Orô é como são chamadas as folhas, plantas, raízes, sementes e favas utilizadas nos preceitos e cerimônias como água sagrada das Religiões Afro-brasileiras.

A folha tem uma importância vital para o povo do santo, sem ela é impossível realizar qualquer ritual, dai existe um termo curriqueiro do povo do santo que diz: ko si ewe, ko si Orixa ou seja, (sem folha não existe Orixá).

Todas as folhas possuem poder, mas algumas têm finalidades específicas e nem todas servem para o banho ritual, nem para os ritos. O seu uso deve ser estritamente recomendado pelo Babalorixá ou em comum acordo com o Babalosaim (sacerdote conhecedor da ação, reação e consequência do poder das folhas), pois só estes sabem a polaridade energética, "positiva ou negativa" de cada uma delas e a necessidade de cada indivíduo.

Para sua utilização nos ritos, deve-se saber as Sasanhas (cânticos específico para folha) e o Ofó (palavras sagradas) que despertam seu poder e força "axé".

Ossaim é o grande Orixa das folhas, grande feiticeiro, que por meio das folhas pode realizar curas, pode trazer progresso e riqueza. É nas folhas que está à cura para varios tipos de doenças, para corpo e espírito. Portanto, precisamos lutar sempre por sua preservação, para que conseqüências desastrosas não atinjam os seres humanos.

Água sagrada, Agbo ou simplesmente água de Abô, são os nomes usados pelo povo do santo para denominar a mistura de folhas sagradas, usada na feitura de santo até a ultima obrigação chamada de axexe.

Sua utilização é larga e irrestrita, significando principalmente a ligação entre o Orum e Aiye (mundo dos Orixás e o dos Homens). Proporcionando o fortalecimento físico e espiritual, prevenindo e até mesmo curando certos tipos de doenças, segundo alguns estudos. (Barros 1993:81). Também usado na sacralização de objetos como fio de contas e espaços sagrados.

Sua preparação é complexa, com ritos que pode durar até sete dias. A presença de um Babalorixá e de um Babalosaim é indispensável para sua confecção, pois neste ato litúrgico são exaltados os cânticos de sasanha.

Além de respeitar horários para a colheita das 16 folhas sagradas, sendo oito tipos de folha chamada "fixas" (Ewe Oro) e 8 tipos de folhas "variáveis" (Ewe Orixás), de acordo com o Orixá que se esteja trabalhando, são utilizados, obi, orobo , azeites, mel e até mesmo (Ejé) sangue de animais sacrificados, entrarão nesta misteriosa mistura, tão importante para cultura afro.

Ewe oro e Ewe Orixás são folhas sagradas pertinentes a cada terreiro, podendo variar de acordo com sua regência, todavia são escolhidas ou herdadas de forma ordenada, geralmente seguindo um equilíbrio: folha gún (excitante "quente") , seu significado em nagô é "chama transe", associada com uma folha èrò (calma "fria"), que é catalisadora da propriedades de outras plantas, formando assim uma parceria perfeita, para uma sintonia harmônica .

As folhas gún ou èrò podem ser macho (agboro) ou fêmea (Yagbá). Na realidade o que distingue sua associação são as formas, se pontiagudas são consideradas masculinos se arredondadas femininos, todas elas tem o domínio do Orixá Osanyin.

Folhas alongadas ou que possuem forma fálica são masculinas.
Folhas arredondas ou que possuem formas uterinas são femininas

As folhas consideradas masculinas estão associadas aos orixás masculinos, bem como as femininas, aos orixás femininos, todavia, eventualmente encontraremos algumas folhas femininas usadas para orixás masculino e algumas masculinas utilizadas para as ìyába, o que reflete a própria relação familiar dos orixás masculinos com femininos e vice versa. Como exemplo vemos que, sendo Ògún filho de Yemanjá, as folhas femininas usadas para esta ìyába é freqüentemente usada para este orixás e vice versa.

Dentro, ainda de uma visão binária, os jêje-nagô consideram, ainda que as folhas possam estar posicionadas no lado direito - apá ọÌtún -, que é masculino e positivo em oposição ao esquerdo - apá òsì - que é feminino e negativo.
Os compartimentos que contem as Ewé Inón (Folhas do Fogo) e Ewé Afẹìfẹì (Folhas do Ar) estão associados ao masculino, elementos ativo e fecundantes.
As Ewé Omí (Folhas da Água) e as Ewé Ilé (Folhas da Terra) se ligam ao feminino, elementos passivos e fecundáveis.

Todavia, essa não é uma condição sine qua non quando analisamos mais detalhadamente a utilização dos vegetais, pois, percebemos que algumas folhas positivas se relacionam com o lado esquerdo ou feminino e vice-versa, daí, encontrarmos folhas femininas usadas com fins positivos e folhas masculinas consideradas negativas. Verger (1995:25) cita, pôr exemplo, "que entre as folhas há quatro conhecidas como (...) as quatro folhas masculinas (pôr seu trabalho maléfico)...; e quatro outras tidas como antídotos...". Entre estas últimas êle inclui o ỌÌdúndún, que é uma folha feminina, porém, positiva, o que nos faz crer que as diversas condições binárias não interagem de modo rígido entre si, mas sim transitam dinamicamente de um lado para o outro, pois, como vimos, uma folha masculina pode estar situada junto aos elementos da esquerda pôr ser considerada negativa e vice-versa.
De grande importante, também, na classificação dos vegetais são as condições binárias gún (de excitação) x ẹÌrọì (de calma), pois, são aspectos das folhas, que dão equilíbrio às misturas vegetais, quando bem dosadas de acordo com a situação de cada indivíduo. Os vegetais considerados gún estão ligados aos compartimentos Fogo ou Terra, enquanto que, os considerados ẹÌrọì, relacionam-se com os da Água ou Ar. Estas condições são interpretadas corriqueiramente pelas pessoas do candomblé como fria (ẹÌrọì) ou quente (gún).
Quando utilizadas nos rituais de iniciação ou nos trabalhos litúrgicos, os vegetais classificados como ẹÌrọì tem a função de abrandar o transe, apaziguar ou acalmar orixá, contrariamente, os considerados gún servem para facilitar a possessão e excitar o orixá.
Os vegetais gún e ẹÌrọì são identificados, normalmente, segundo seu nome ou sua finalidade. È importante notar que o ọfọÌ (encantamento) é que determina a função da folha, pois, embora exista todo um sistema classificatório para os vegetais, cada folha traz em si a função a qual ela se destina. Como exemplo: Peregún que no seu ọfọÌ é considerado o senhor da maldição, tem a finalidade de retirar maldições das pessoas. Ewuro, a folha amarga, tem por função retirar o amargo da vida. Teté, Rinrin e Odundun são folhas calmantes, mas, também, com função de atrair prosperidade para seus usuários.
Esses pares se interrelacionam e produzem a harmoniosa das preparações (omi ẹÌrọì, amasí) constituindo-se em referencial das 16 "folhas" ewé ẹÌrìndínlógún que devem estar combinadas, das quais oito são constantes e denominadas de ewé órò, e as restantes variáveis ewé òrìṣà e empregadas de acordo com o òrìṣà do indivíduo a que se destina o preparado e/ou à situação específica (lavagem de contas, de otá, feitura de santo, beberagem, etc.).
O quadro abaixo esquematiza as nossas colocações, assim como permite visualizar o equilíbrio imanente às preparações vegetais. Cabe, ainda, explicitar o que é entendido como omi ẹÌrọì literalmente água que acalma trata-se de preparado à base de vegetais macerados, aos quais é acrescentada omì água (elemento essencialmente ẹÌrọì) e ẹÌjẹÌ (sangue) dos animais sacrificados (elemento gùn), sendo então colocado em recipiente apropriado (porrão, vaso de barro) e deixado para fermentação. Cabrera (1980a:181) assim o define O Omièrè (...) se compõe das folhas correspondentes a cada Oricha e das seguintes espécies usuais (...)
 


Àwọìn Ewé

Tọìtọì

Jọìkọìjẹì

Àgbaó

TẹÌtẹÌ ẹÌgún

Rín Rín

Ọgbọì

GbọÌrọÌ ayaba

Étìpọìnlá
ẸÌrọì Gún ẸÌrọì Gún ẸÌrọì ẸÌrọì Gún Gún
Fem. Fem. Masc. Masc. Fem. Masc. Fem. Masc.
Yèmọnja ỌÌṣùn Ṣàngó Òṣàlà ỌÌṣùn ỌÌsányin Àwọìn ayaba Ṣàngó



Esta preparação também é conhecida no Brasil com a designação de Àgbó, água dos òrìṣà, considerada de múltipla utilidade e um dos àsé mais importante dos ilé òrìṣà. Cabe ressaltar que existem distinções na sua composição, independentes da variação das espécies vegetais que o compõem "ewé òrìṣà e, conseqüentemente do elemento relacionado. Em primeiro lugar, existe o Àgbó para os òrìṣà funfun, sem azeite de dendê epó e sem sal iyò, e o àgbó dos ébóra òrìṣà-filhos que, por sua vez, é diferenciado de acordo com a substância mítica relacionada à cada um desses òrìṣà. Portanto, a diferenciação dos àgbó está relacionada com os èwò proibições alimentares elementos que se referem diretamente às substância-símbolo da essência do òrìṣà e que aparecem explícitas nos mitos de criação e/ou nos textos dos Odù.

O mel, por exemplo, não pode ser incluído entre os elementos que compõem o àgbó ỌÌṣọìọÌsi, pois é um dos seus interditos alimentares, enquanto está presente nas preparações destinadas a todos os outros òrìṣà, o mesmo sucede com o dendê em relação a Òsàlá.
Verger (1968a), estudando o papel das plantas litúrgicas entre os Yórùbá, vai dividi-las em duas categorias: "igègùn òrìṣà" e "èrò òrìṣà", a primeira categoria para "excitar os òrìṣà" e a segunda para "calmar os òrìṣà". Explicita quanto ao termo "gùn" que este significa "montar" e induz a idéia de cavalgar, sendo que os adeptos que são possuídos pelas divindades são denominados de "elégùn" ou "esín òrìṣà" cavalo do deus concluindo que as espécies colocadas sob esta categoria servem para propiciar a possessão. Contrariamente, as plantas classificadas como de calma (èrò) teriam o efeito de abrandar o transe, apaziguar o òrìṣà. Estas categorias mencionadas por Verger foram extraídas de textos dos Odù e no curso de nosso trabalho conseguimos identificá-las nas "kòrín ewé" ou "cantigas de folha", integrantes do ritual "Àsà Òsányìn" ou como chamada Sasanho, no qual as espécies são louvadas antes de serem empregadas. Os textos das cantigas aparecem mais adiante na linguagem ritual e em tradução para apresentar o significado, tanto literal quanto a dos grupos Jêje-Nagô.

O termo gùn aparece com a mesma conotação nas cantigas que visam detonar o àṣ da "folha" PẹÌrẹÌgún e da "folha" TẹÌtẹÌ ẹÌgún. Quanto à categoria èrò, podemos encontrá-la explícita nas cantigas que se referem a ìrókò (Ficus doliaria, M., Moracease, Ba-35) e ỌÌdúndún, espécies conotadamente de calma, tanto no Brasil, como em Cuba e na Nigéria "(...) evocam a idéia de retorno à calma através do emprego de folhas de ỌÌdúndún e da água contida na concha do caramujo.
No Brasil, entretanto, estas categorias aparecem também sob a denominação de "positivas" e "negativas", servindo como medida para o estabelecimento do equilíbrio das preparações, sendo mesmo "que se deve Ter muito cuidado ao juntar as folhas, pois pode acontecer algum problema se não forem vem casadas", segundo a maioria de nossos informantes.

A paridade e a complementaridade com a combinação exata dos pares Macho/Fêmea e Agitação/Calma também é observada no preparo de amasi banhos destinados a induzir bem-estar, nos quais somente são empregadas "folhas verdes", recém-coletadas, maceradas e imediatamente usadas. Os amasi aqui no Brasil são chamados de Omièrò, Maupoil (1943:143) faz menção a preparações "compostas de folhas e d'água (ama-si)" com a mesma finalidade. Então, se a paridade é uma constante nas preparações mencionadas, significando o estabelecimento de equilíbrio, a imparidade aparece diretamente relacionada à desordem, ou seja, ela é quem pode resolvê-la e através de sua ação (movimento) reconduzir à ordem, ao equilíbrio.

O movimento é a mediação que produz uma comunicação que, por sua vez, restabelece a ordem. Esta ação, portanto, é associada à imparidade nos ritos de limpeza e/ou purificação, que vão produzir o bem-estar, advindo da estreita ligação com os òrìṣà. A limpeza e a purificação rituais os "sacudimentos", cujo sentido explícito de movimentos se encontra na denominação do rito, são realizados com número ímpar de espécies vegetais (1,3,7) e visam anular a desordem proveniente de um estado de "doença". Este estado, contudo, não se refere apenas a distúrbios fisiológicos, mas, sobretudo, à ruptura da ligação (falta de comunicação) necessária para o bem-estar (saúde) entre os árá-aiyé e os árá-òrún, entre a oposição binária complementar fundamental, entre a vida e a morte, entre o natural e o sobrenatural.

Em suma, a desordem é equalizada à doença (mal-estar físico e/ou social). A volta à ordem é propiciada pela ação que a imparidade produz, a mutação de um estado de "doença" para o de "saúde" implica, pois, na imparidade, da mesma forma que a ordem/equilíbrio supõe a paridade. A imparidade, simbolizando a impureza, somente através do emprego de elementos vegetais ou não, em número ímpar, pode trazer a ordem/pureza.

Dentro da lógica do sistema de classificação dos vegetais foi detectada, além dos pares Macho/Fêmea, Agitação/Calma, outra sub-divisão, a das plantas substitutas, aquelas que são ewé ẹrú - folhas escravas das outras. Estas espécies estão diretamente relacionadas à folha principal de cada uma de nossas categorias-chave. Assim é que, por exemplo, a principal no compartimento fogo, ewé inón estão unidas outras espécies denominadas de suas "escravas", que podem substituí-las ou a ela se agregar para a obtenção de fins almejados. Tal associação implica, portanto, na noção de Família empregada na classificação botânica clássica. Da mesma forma, as substituições podem ser efetivadas à nível de espécie: em vez de ỌÌdúndún pode ser empregada Àbámodá, ambas pertencentes à categoria èrò e também ao compartimento ewé omi. Dalziel (1948:28) se refere a ewé Àbámodá como o que você deseja, você faz em tradução literal do nome, e acrescenta que ela também é chamada de ẹrú-ọÌdúndún escravo de ọÌdúndún. Percebe-se o estabelecimento de uma extensa rede de "relações de parentesco" entre as folhas principais e suas substitutas afins. A existência destas afinidades também percebidas por Cabrera (1980a:179) está de acordo com o cuidado recomendado por nossos informantes, na composição harmônica de uma preparação, pois uma não-afinidade pode causar malefícios; assim é que as "folhas" de Şàngó nunca devem ser colocadas no Àgbo de Ọbalúwaìye, da mesma forma que os "seus quartos devem ser separados". Estas precauções estão fundamentadas nos mitos que relatam a constante luta desses òrìṣà pelo coração de Ọya.
O par Macho/Fêmea encontra-se representado primordialmente em Ọgbọì, pertencente a todo os òrìṣà masculinos e em GbọÌrọÌ ayaba, representante de todas as divindades femininas.
Outras distinções foram percebidas e podem ser resumidas nos seguintes critérios:
todos os vegetais (árvores) possuidores de troncos são reunidos sob a denominação ampla de igi, notadamente as que se destacam pelo porte como Ìrókò, Oṣè, Ẹìkikà.
os vegetais rasteiros, arbustivos ou de caule sésseis estão agrupados como "kékéré" e geralmente antes da palavra que os designa especificamente consta o nome ewé (folha): ewé àbamòdá, ewé òṣibàtà.
os vegetais parasitas ou não, que têm como substrato outros vegetais, e as trepadeiras recebem a denominação geral de àfòmón: odán àfòmón (Phoradendrum crassifolium, Phl et Schl., Loranthaceae, Ba-132) e àfòmón (Struthantus brasiliensis, Lank, loranthaceae, Ba-80).

Portanto, pode-se inferir do exposto acima que as relações complementares Macho/Fêmea, Agitação/Calma e os demais pares viabilizam não apenas uma justaposição por compartimentos (Bastide, 1955:494), mas um encaixamento de compartimentos, conforme apontado por Lépine (1982:54).

A coerência do sistema de classificação dos vegetais é, portanto, manifestação da coerência do sistema classificatório abrangente Jêje-Nagô, subjacente ao ethos das comunidades. Pode-se afirmar que, neste sentido, os vegetais ultrapassam seu sentido utilitário imediato, são organizados e fazem parte de um sistema classificatório de ordenação do mundo; estão diretamente relacionados a uma cosmovisão específica e são constituintes de um modelo que ordena e classifica o universo, definindo a posição do indivíduo na ordem cosmológica. Assim, os vegetais fazendo parte de um mundo real, dão-lhe um sentido também. A sua organização dentro de uma perspectiva própria, torna-os conceitualmente apreensíveis, podendo, por conseguinte, o indivíduo vivenciá-lo e mover-se dentro deste espaço organizado.
 

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